Era uma manhã como todas as outras, morávamos no mesmo bairro e esperávamos o ônibus fretado para mais um dia de trabalho na fábrica, foi assim por 10 anos. Meu colega era eletricista 25 anos de profissão, eu sou soldador há 15 anos. Como de costume tomamos café juntos no refeitório da firma e cada um seguiu para seu setor! Três horas depois o alarme de emergência foi acionado, os paramédicos foram chegando e os boatos se espalhando na fábrica, o eletricista esqueceu de desligar a energia, morreu na hora! Não demorou muito para a notícia oficial chegar, era o meu colega, meu parceiro querido!
Segundo o observatório digital de segurança do trabalho a cada 3 horas e 40 minutos uma pessoa morre por acidente de trabalho, em abril de 2019 foi lançada uma campanha de Prevenção a Acidentes de Trabalho (Canpat 2019), uma iniciativa conjunta do governo federal, Ministério Público do Trabalho, entidades patronais e de empregadores. O objetivo da iniciativa foi alertar para o problema e estimular empregadores e trabalhadores a construírem ambientes mais saudáveis e seguros.
Apesar das estáticas alarmantes sobre o assunto, falar de morte no contexto laboral é um tabu, contudo, considerar o sofrimento dos colegas diante da perda é essência! As relações são construídas de forma natural no ambiente de trabalho e o rompimento desse laço de forma trágica, traz consequências ao comportamento dos colaborados que conviveram com o colega que faleceu.
O assunto é delicado, e para cada indivíduo o luto é vivenciado de uma maneira e as mudanças a partir daquela morte é inevitável, o soldador não terá mais a companhia do amigo eletricista.
Partindo desse pensar, os gestores da companhia têm papel fundamental na manutenção da saúde mental no ambiente de trabalho, um olhar humanizado e atento as possíveis mudanças destrutivas dos colaboradores que precisam continuar trabalhando.
Quando ocorre um acidente com morte, muitas perguntas ficam sem respostas, afinal, o personagem principal se foi, não é possível perguntar o que houve? É levantado hipóteses e mais hipóteses a partir do fato e prevenção para evitar novo acontecimento – esse movimento é importante.
Mas é essencial um olhar para os colaboradores que ficam, ouvir seus sentimentos diante do fato, o líder não é responsável em dar a solução para que acidentes não ocorram, mas ter empatia tem valor imenso para quem se sente aflito diante da perda.
Promover espaço para o diálogo, envolver a equipe para que todos superem juntos a perda, ir na contramão da cultura brasileira em não falar de luto, mexer na ferida para cicatriza-la, dessa forma existe grande possibilidade do impacto ser menor, pois, as relações estarão fortalecidas e a resiliência trabalhada dentro da companhia.
Nossa ideia em quanto consultoria não é fugir da realidade de cada empresa, sabemos que existe o “possível e o ideal”, mas também sabemos que é provável trabalhar o melhor dentro das condições que temos, isso se chama responsabilidade. E sua empresa tem espaço para falar de luto?
Bibliografia:
https://www.linkedin.com/pulse/morte-ambiente-de-trabalho-ivana-tolotti