O conceito de medo no local de trabalho normalmente é permeado de tabus e receios, durante uma entrevista psicológica, pode-se perceber que alguns trabalhadores encontram muita dificuldade em falar sobre os medos que os acompanham durante sua atuação profissional. O psicólogo se depara com a ideia por parte destes profissionais, que o fato de se assumir o medo frente a certas situações laborais, como por exemplo atuações em altura, espaços confinados e como brigadistas, pode denotar a incompatibilidade deste com suas competências laborais e desta forma desqualifica-los e em consequências mais profundos causar seu afastamento de suas atividades, como se o fato de identificar e assumir suas limitações fosse tornar tal profissional indigno diante de seu trabalho.
Não é difícil de encontrar falas por parte dos trabalhadores de que não possuem medo diante de tal situação e sim respeito, essa é a forma mais comum e de certo modo mais aceitável de expressão de uma emoção frente a uma situação de perigo. A ideia que circula entre os trabalhadores é que falar de medo em algumas funções é equivalente a dizer que é inútil e incapaz de lidar com tal situação, e este sentimento tende a se agravar sobretudo para aqueles que consideram suas atuações indispensáveis a empresa, pois para tais no ambiente de trabalho não há permissão para o medo.
Mas afinal o que é o medo? Do ponto de vista da psicologia e segundo Lucia S. Sebben em seu livro Avaliação Psicossocial Psicologia aplicada à Segurança no Trabalho, o medo é considerado como uma emoção básica que é essencial ao desenvolvimento do ser humano, tal sentimento o acompanha por toda vida em suas diferentes faixas evolutivas e pode ser normal ou exacerbado tornando-se patológico, este último pode impedir que o indivíduo seja capaz de tomar atitudes para sua alto preservação frente a situações de risco eminente a vida.
“Este sempre se instala no psiquismo do sujeito como um sinal ao perigo, imposto pela lei e pela autoridade. O medo sempre esteve presente no ambiente laboral. A empresa sempre foi um ambiente estressor”. (L. M. CASTELHANO, 2005)
No entanto uma questão que preocupa é como o trabalhador pode adotar um comportamento seguro frente a este sentimento e permanecer atento aos riscos de seu trabalho? Podemos tomar como referencia de pensamento seguro, a conduta adotada por alguns funcionários mais experientes e preparados emocionalmente, dizem eles que o medo sentido os mantem vivos pois lhes fazem lembrar de suas limitações e adequá-las aos procedimentos de segurança aprendidos durante os treinamentos.
Tais pessoas percebem que ao sentirem medo diante de uma função, acionam um instinto de autopreservação que lhes protege de possíveis ações inseguras. Este assunto deve ser amplamente discutido nos ambientes de trabalho, abrindo espaço para reflexões por parte dos funcionários, visto que o medo pode revelar-se diferente para cada indivíduo em tempos diferentes, afim de que estes descubram qual é a medida adequada de seus medos, aprendam qual é o limiar entre um medo que os manterá vivos e aquele que poderá prejudica-los em suas atividades e até mesmo incapacita-los de realizar suas tarefas de forma eficiente e segura.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
Lúcia Simões Sebben – Avaliação Psicossocial Psicologia aplicada à Segurança no Trabalho, editora: Vetor, 2018.
Laura Marques Castelhano – O medo do desemprego e a(s) nova(s) organizações de trabalho, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/psoc/v17n1/a03v17n1.pdf